quinta-feira, 12 de maio de 2011

Chega de “todo mundo faz”

Do Congresso em Foco

Toda vez que se divulga alguma coisa relacionada ao mensalão do PT ou alguma outra irregularidade do governo anterior ou do atual governo, os espaços de comentários ou os e-mails do Congresso em Foco começam a receber, como se fosse algum tipo de resposta automática: “E o mensalão dos tucanos? E o mensalão do DEM?”

Para deixar claro de uma vez por todas, se a leitura do nosso trabalho ainda não tiver deixado: o mensalão dos tucanos em Minas Gerais e o mensalão do DEM em Brasília são igualmente graves; os envolvidos nos dois esquemas têm que ser rigorosamente punidos, e, no nosso caso específico, tudo de novo que surgir sobre os dois casos merecerá destaque e atenção. E o mesmo vale para o mensalão do PT: grave; os envolvidos têm que ser rigorosamente punidos; tudo o que houver de novo sobre ele merecerá destaque e atenção. Ponto final.

Nos últimos tempos, ficou comum cultivar-se a perigosa ideia de que jornalista precisa engajar-se a alguma corrente política. Ficar contra ou a favor dos governos. Este colunista – e eu acredito piamente que para o lucro do leitor – não entra nessa. Um aviso, portanto: para quem quiser encontrar respostas fáceis, para quem só quer ver corroboradas as suas avaliações, para quem é governista e só quer ler avaliações governistas, para quem é oposicionista e só quer ler avaliações oposicionistas, este não é mesmo o espaço mais adequado. Aqui, é feito um longo esforço pelo equilíbrio. Aqui, compreende-se que uma sociedade democrática é diversa, que a democracia se faz pelo debate, e que há momentos e avaliações corretas e erradas em todos os partidos, em todas as correntes. Aqui, a intenção será sempre ajudar na leitura dos movimentos dos principais agentes da política brasileira, o que está por trás deles, o que eles planejam, o que eles desejam. Todos merecem atenção. Todos merecerão sempre espaço.

Não custa, assim, repetir algumas avaliações que têm sido comuns aqui nesta coluna. Ao contrário do que parece achar a oposição e alguns dos veículos mais vinculados a ela, a imensa popularidade conquistada pelo presidente Lula não foi um caso de delírio coletivo ou da profunda atração provocada pelo charme da sua barba grisalha. Lula foi capaz de uma proeza que não foi de forma alguma pequena: ele conseguiu conciliar a manutenção da estabilidade econômica com uma bem mais larga e generosa política social e mais um sistema de concessão de crédito a custo pequeno para a população de baixa renda. O resultado é que ele melhorou consideravelmente a vida das camadas mais pobres da sociedade brasileira. Que têm toda a razão em retornar para ele – e para o PT, e para Dilma – os seus votos e o seu agradecimento.

A oposição morre de raiva disso. Morre de raiva de não poder se contrapor a isso. Morre de raiva em não ser capaz de apresentar uma alternativa a isso. Por isso, perde as eleições. Bate cabeça. Desgasta-se em brigas internas. Definha, como vem acontecendo. Como não foi a beneficiária direta de boa parte dessas ações de governo, a antiga classe média ganhou muito menos. Ou mesmo, em algumas áreas, não ganhou ou ganhou quase nada. Por isso, parte dela reclama também.  

Esse é o lado positivo do governo Lula.  E ele não é pouco. Não é pequeno. Mas há uma herança extremamente negativa para a educação política do país, que remete ao primeiro parágrafo deste texto: o discurso da banalização do mal feito, da irregularidade. É a socialização – o “todo mundo faz” – e a partidarização – “tem o do PT, mas tem o do PSDB e o do DEM” – da treta. Que se soma a uma espécie de maquiavelismo baseado unicamente na frase que ficou mais famosa do Príncipe de Maquiavel: “Os fins justificam os meios”. Em nome da tal da “governabilidade”, como se fosse um pedágio pela enorme evolução social e econômica alcançada, nós temos de relevar as denúncias de corrupção, as fraudes e as irregularidades ocorridas. Porque os outros também faziam, porque os outros também roubavam, porque os outros não têm moral para falar nada. E todos os que denunciam têm única e exclusivamente um propósito golpista de interromper a atual sequência de conquistas e avanços.

Se não for apenas cínico, o argumento de que não é possível governar o país sem fazer tais concessões à moralidade pública é de uma tristeza à qual eu, particularmente, me recuso. Por que 68 países conseguem tocar seus governos com menos corrupção (o Brasil, que está no G20 da economia, que tem papel importante entre os emergentes com os Brics, que quer ocupar lugar no Conselho de Segurança da ONU, é apenas o 69º no ranking de percepção da corrupção)? Por que considerar normal que o país perca milhões de dólares com superfaturamentos, dinheiro desviado para o exterior, fraudes de todo o tipo, como uma espécie de contrapartida pelos avanços do governo? Por que a diminuição da pobreza extrema tem que gerar na outra ponta novos milionários enriquecidos pela corrupção?

Este país só vai melhorar de fato quando não houver mensalão de partido nenhum. E quando ninguém mais achar que pode justificar a existência do seu mensalão com a existência do mensalão do outro.

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