terça-feira, 29 de novembro de 2011

O que significa conhecer a Recife?

Recife encontra-se num momento delicado, a frente popular corre o risco de se desfazer devido a rejeição a João da Costa e a briga dos "Joões", por isso o PSB decidiu pressionar o PT permitindo que Fernando Bezerra Coelho transferisse o seu domicílio eleitoral para Recife.

Não acredito que FBC seja um nome de peso na capital mas tenho escutado alguns comentários que considero hilários, como por exemplo o fato de que ele não "conhece" Recife. O que significa conhecer Recife? Saber dos seus problemas? Das suas dificuldades? Se conhecer significa isso e o problema for de fato esse, se ele quiser em um mês ele passa a conhecer tudo dessa cidade, é só se dar o trabalho, não gosto pessoalmente do PSB, mas essa indagação é intelectualmente mentirosa, afinal de contas os grandes problemas de Recife são os mesmos de todas as grandes cidades do Brasil, pode-se até mudar o sujeito mas o predicado é o mesmo!

Os "jornalistas especializados" que afirmam isso, são os mesmos que durante a eleição de João da Costa, eu escutei dizer que por ele "conhecer"  demais a cidade, devido aos seus 8 anos de OP sabia de todos os problemas da cidade! Todo o brasileiro tá careca de saber quais problemas nós temos, precisamos sim de soluções!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Brasil, o país do futuro?(5/5)

Carências 


Consultor da ONU para o Relatório de Desenvolvimento Humano Brasileiro, Rogerio Borges ressalta que o IPM, ao medir a pobreza sem considerar a renda, traz um retrato mais fiel das carências enfrentadas pelas pessoas de uma determinada nação. “É verdade que, no Brasil, a renda leva a um acesso maior de serviços, mas nem sempre isso ocorre, especialmente em outros países”, diz Borges. 


Com experiência em serviços gerais, Elilson procura por um trabalho que permita sair do barraco onde mora atualmente. Depois que a mulher morreu no ano passado, aos 29 anos, de câncer no colo do útero, o homem desistiu de entrar em um programa de transferência de renda. “Ela tentou várias vezes cadastrar a gente no Bolsa Família. Levava todos os documentos, até os das nossas filhas, mas nunca tivemos uma resposta positiva”, conta Elilson, afastando, logo em seguida, o tom de lamentação. “Se um dia melhorar, a gente prossegue, se não melhorar, vamos continuar também.” 

Brasil, o país do futuro? (4/5)

O novo retrato da pobreza


A menos de 20km do Plano Piloto, área central de Brasília famosa pelo alto padrão de vida, está o barraco de madeira onde mora Elilson Gonçalves Pereira. Na casa de dois cômodos localizada na Vila Estrutural, o banheiroé improvisado, não há água encanada nem rede de esgoto, a eletricidade vem de gambiarras para funcionar o único eletrodoméstico do lar, uma televisão de madeira fabricada na década de 1970. Para cozinhar, o maranhense de 37 anos usa lenha. “Nesse tempo de chuva, a madeira molha. Tem hora que desisto de acender”, conta, ao tentar fazer o fogo pegar. Atualmente desempregado, o homem que já foi resgatado como escravo em uma carvoaria no Pará antes de desembarcar no Distrito Federal para tentar a vida, representa bem o Índice de Pobreza Mutidimensional (IPM), divulgado ontem pelas Nações Unidas, que mede privações múltiplas e simultâneas em serviços essenciais, retirando apenas da renda o critério para avaliar o bem-estar social da população. 

Pelo IPM, o Brasil tem 2,7% da população em pobreza multidimensional. Isso significa 5 milhões de pessoas com privações graves em pelo menos 30% dos indicadores avaliados — entre os quais destacam-se nutrição, energia para cozinhar, banheiro e tipo de piso na residência. Embora o número represente duas vezes a quantidade de moradores do Distrito Federal, especialistas apontam que o dado está subestimado. “É uma estimativa conservadora se considerarmos que a situação de brasileiros com insegurança alimentar de moderada a crítica é de 11%. O IPM faz o seu papel ao traçar uma linha de pobreza alheia à renda, mas funciona melhor para países em condições extremas, como a Índia. Lá, a questão epidemiológica, por exemplo, depende muito da qualidade da água. Para o Brasil, isso não faz tanto sentido. Nossas privações são outras. Por isso, a questão nutricional talvez seja uma medida melhor”, opina o especialista em pobreza Flávio Comim, pós-doutor em Economia pela Universidade de Cambridge e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Entre os BRICs, o Brasil perde — como em todos os outros indicadores — para a Rússia no quesito pobreza multidimensional. Enquanto aqui há, pelas medições da ONU, 7% da população vulnerável à miséria, lá 0,8% estão na mesma situação. “Todos os países comunistas colhem frutos nas áreas de educação e saúde, que são preponderantes para uma boa avaliação de desenvolvimento humano, embora muitas vezes não tenham desempenho notável na seara econômica”, pontua Marcelo Medeiros, pós-doutor em sociologia do desenvolvimento e professor da Universidade de Brasília. Atrás do Brasil no IPM, ainda dentro do grupo das nações emergentes, vêm China e África do Sul, em posição praticamente igual. 

Na lanterna, está a Índia, com 612 milhões de pessoas — ou 53,7% da população total — em condição de pobreza multidimensional. Ainda há 28,6% em pobreza grave e 16,4% incluídos como vulneráveis. Ou seja, sobram 1,3% de indianos imunes às privações medidas pelo IPM. 

Brasil, o país do futuro?(3/5)

Subiu ou desceu?


No ranking do IDH do ano passado, o Brasil estava na 73ª posição, mas a lista englobava 169 países. Com a entrada de 18 nações em 2011, o Pnud recalculou o valor de 2010 para essa lista maior, de 187 nações. Nesse novo ranking, incluindo nove nações que entraram na frente do Brasil, o país saiu do 85º para o 84º lugar. A atualização da relação, para que ela se torne comparável à lista do ano passado, atende a uma preocupação técnica, mas pode mascarar interpretações importantes para entender o fenômeno da pobreza no Brasil. É o que defende Flávio Comim, professor da Universidade de Cambridge e consultor do Relatório de Desenvolvimento Humano para o Brasil em 2010. 


“As mudanças reduzem a transparência do ranking. O cidadão comum perde poder ao não conseguir comparar a lista de um ano com a do outro. E o pior: talvez, no final das contas, o preciosismo técnico esteja errado, pois a conta se faz ‘de cima para baixo’ e, nesse sentido, a distância entre o Brasil e a Noruega (primeiro colocado) aumentou, e não diminuiu de 2010 para 2011, como o entendimento de que subiu uma posição pode levar a crer”, afirma Comim. Na avaliação dele, a colocação brasileira atual é claramente “menos elogiosa” que no ano passado. Dos nove países que, ao integrarem o ranking este ano pela primeira vez passaram na frente do Brasil, destacam-se Cuba (51º) e Líbano (79º). (RM)

Brasil, o país do futuro?(2/5)

Transferência de renda


Pós-doutor em sociologia do desenvolvimento e professor da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Medeiros explica que os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, não causam qualquer impacto na redução das disparidades. “São desenhados para reduzir a extrema pobreza. Até porque, a quantidade de dinheiro usada no programa do governo federal está entre 0,5% e 1% do PIB, é pouco”, afirma o economista e sociólogo.

Opinião semelhante tem o cientista político João Talocchi: “Se não houver uma política no campo da educação, os beneficiados permanecerão vulneráveis e dependentes da ajuda governamental”. Flávio Comim, pós-doutor em economia, chama atenção para a expectativa de escolaridade no Brasil, que diminuiu de 14,5 anos em 2000 para 13,8, em 2011. “Isso significa que a qualidade do sistema educacional caiu, por diversos fatores medidos dentro dos critérios estatísticos, espera-se que uma criança que entra hoje na escola estude menos do que se esperava no início da década”. 

Gênero

Eleger uma mulher para comandar o país pode ser sintomático, do ponto de vista da redução das desigualdades de gênero, mas não significa necessariamente um equilíbrio em relação aos homens no Brasil. Especialmente no campo da política, onde apenas 9,6% das cadeiras do Parlamento são ocupadas por elas — pior índice entre países emergentes, os chamados Brics, e na comparação com nações em condições semelhantes, como o México. Mas é no campo da saúde pública que o tema ganha contornos dramáticos. Se, por um lado, houve uma redução expressiva da mortalidade materna, de 110 para 58 casos por 100 mil nascidos vivos entre 2010 e 2011, no quesito planejamento familiar, o país vai muito mal. Aqui, a cada mil mulheres que dão à luz, 75 são adolescentes, segundo o Índice de Desenvolvimento de Gênero (IDG). A taxa brasileira fica pouco abaixo da indiana, de 86. 

Brasil, o país do futuro?(1/5)

Em seguida estarei reproduzindo matérias do Diário de Pernambuco e colocando em negrito as partes mais relevantes.

Um país (longe) do futuro 


Brasília - Embora tenha subido uma posição — de 85º para 84º, entre 187 países — no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado anualmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Brasil continua atrás de nações como Bósnia (74ª), Cazaquistão (68º), Kuwait (63º) e Trinidad e Tobago (62º). Ao mesmo tempo, vizinhos com economias bem mais modestas, como Argentina (45ª) e Chile (44°), integraram, este ano, o seleto grupo de Estados com a mais alta qualidade de vida no mundo. O motivo fica evidente quando considerado o IDH ajustado à desigualdade social (IDHD). Nesse índice, calculado para 134 países, o Brasil subiria 41 posições caso eliminasse as disparidades internas, considerando as condições atuais nas demais nações. Essa ascensão levaria o país ao estágio “desenvolvimento humano muito elevado”, a classificação de elite do Pnud, onde estão incluídos Noruega, Canadá e Suécia.

Além da concentração de renda, responsável por 40% da desigualdade medida pelo IDHD, a educação é apontada como catalisador essencial para acelerar o desenvolvimento humano brasileiro — que, na última década, cresceu lentamente, a 0,69% ao ano, contra o ritmo verificado entre 1980 e 2000, de 0,87%. Para se ter ideia do tamanho do desafio, os brasileiros têm, em média, 7,2 anos de escolaridade, o mesmo número observado no Zimbábue, cuja posição no ranking do IDH é de 173º. O país está atrás, por exemplo, de Botswana, onde a média de escolaridade chega a 8,9 anos, e do Tajiquistão, com 9,8 anos. Já no quesito expectativa de vida — que completa o tripé renda, educação e saúde, usado no cálculo do índice —, o Brasil subiu de 73,1 anos, em 2010, para 73,5 em 2011. Jose Pineda, chefe do grupo de pesquisa do IDH, explicou que, devido a esse aumento, a saúde foi a variável com a maior contribuição individual para o índice brasileiro deste ano.

Expectativa de vida

Apesar do avanço destacado, a expectativa de vida dos brasileiros está bem abaixo não só dos primeiros colocados no ranking, como a Noruega, onde se espera viver 81 anos, como das nações com características semelhantes. Na Colômbia, por exemplo, a esperança ao nascer é de 73,7; na Argentina, de 75,9; e no México, de 77. 

No que depender do servidor público aposentado Eurípedes do Nascimento Arantes, em breve, o Brasil alcançará níveis mais elevados. Aos 80 anos, idade equiparável à expectativa dos países nórdicos, ele recorda os avanços na saúde pública ao longo das últimas décadas. “Quando eu era garoto, a gente só via remédio de planta e tomava com base no conhecimento popular, não havia médico nem hospital como hoje”, comemora.

O economista Marcelo Neri, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que o Brasil avançou na última década, quando a renda da população mais pobre cresceu 350%, mas destaca que a desigualdade permanece como principal característica negativa do país no cenário internacional. “A melhor forma para combater isso é atacar o problema da educação. Esse é o pilar que pode dar bases mais sólidas para a evolução do IDH brasileiro”, acrescenta.