quarta-feira, 20 de julho de 2011

O problema das chuvas de Recife e a democracia no Brasil

Engraçado como temas ás vezes tomados como insignificantes podem tomar proporções gigantes quando se entende o contexto em que estão.  Vejo que a democracia brasileira tem problemas que não estão sendo solucionados, mas antes que pensem que sou a favor de uma ditadura, algo que abomino, peço que primeiro leiam o que vou dizer a seguir, pois antes de mais nada precisamos entender os problemas para depois solucioná-los.

Sabemos que a democracia é um teste público de aprovação em que uma pessoa é eleita para servir de melhor forma a sociedade que a elegeu. Existe no entanto um grande problema nesse relacionamento que é o fato de que nem sempre essa sociedade sabe o que é melhor para si, a melhor solução para isso seria um sociedade bem informada e culturalmente preparada para entender a problemática da gestão pública, algo como uma preparação desde criança dos problemas e possíveis soluções para eles e o custo dessas soluções para toda a sociedade.

Essas questões em geral são solucionadas através de uma educação forte que possui visão de futuro, mas não é isso que acontece no Brasil, onde até hoje a palavra "política" é sinônimo de assunto chato. Não sei quando isso começou mas sei que perdura até hoje e muitos maus gestores públicos se aproveitam desse problema em benefício próprio, mantendo um sistema educacional que marginaliza boa parte da população e isso se aplica em todas as camadas sociais.

E o que isso tem a ver com as chuvas de Recife?

Nos últimos dias muito tem se falado mal do prefeito João da Costa, principalmente devido aos problemas de chuvas na cidade do Recife como buracos e alagamentos, piorando um já deficitário sistema viário. A resposta do prefeito às críticas tem sido tapar os buracos e recapiar ruas esburacadas a toque de caixa, mas ai vem as chuvas novamente e os buracos aparecem no mesmo lugar de antes. A situação se complica mais ainda quando vemos espaços pavimentados em ruas de placa de concreto, deixando claro que aquilo não é uma solução final.

Como então resolver essa questão? Os especialistas tem argumentado que Recife sofre de sérios problemas de drenagem e isso inviabiliza muitos recapeamentos e tapa-buracos, sendo a solução correta bem mais custosa em termos de tempo e dinheiro, pelo menos inicialmente já que os ganhos futuros são bem mais vantajosos, mas aí entra a questão chave desse post, o tal do futuro.

Tapar um buraco dá um retorno imediato a um governante a um custo pequeno, ou seja , ele ganha dos dois lados, ganha popularidade e gasta pouco, enquanto que a solução ideal demora mais e custa mais, gerando frutos para uma administração que talvez nem seja mais a dele. Fica então evidente que temos aí um grande problema de clientelismo brasileiro, onde uma solução meia-boca mesmo mal feita tem um resultado melhor do que a completa, gerando um ciclo vicioso de governante agradando a população e a população se safisfazendo com pouco. Isso fica mais evidente ainda quando se sabe que um mandato só tem 4 anos e geralmente um governante demora um ano para começar a fazer alguma coisa relevante, nesse período é quando acontece a partilha de cargos.

A questão gira em torno de decisões inicialmente impopulares que darão resultado a médio e longo prazo e são exatamente essas decisões que são as mais complicadas de sair, mesmo quando elas parecem absolutamente óbvias. A população já marginalizada é ensinada a esperar e imediatamente são mostrados outros ganhos da administração e alguns depoimentos individuais de pessoas que realmente foram beneficiadas e de uma hora para outra tudo está bem. As coisas ficam postas de uma forma que fica parecendo que se você reclama dessa administração, você não se importa com aquela pessoa que foi beneficiada e sabemos que nossa preocupação deve ser sempre com a sociedade como um todo e não com pessoas individuais em detrimento da sociedade.

Termino esse longo post dizendo que a solução ainda não está no horizonte, pois precisamos de políticos honestos o suficiente para tomar decisões impopulares que trarão benefícios a médio e longo prazo, resolvendo as emergências pontualmente, mas deixando claro que algo está sendo feito em paralelo, ou seja, precisamos de um verdadeiro planejamento, mas não vejo isso acontecendo nem no Brasil, nem no Recife.

Nenhum comentário: