sexta-feira, 4 de março de 2011

Copa 2014: a história poderia ser outra

Do Congresso em Foco


Rodrigo Prada*
Nesta quarta-feira (2/3), o Portal 2014 apontou em relatório feito por sua equipe de reportagem que, dos doze estádios escolhidos para a Copa 2014, ao menos cinco devem virar elefantes brancos.
Definitivamente, o que mais atrasa o crescimento do Brasil é a falta de planejamento. O que mais ouvimos dizer hoje é que o grande problema da Copa 2014 serão os aeroportos. De fato serão. Mas quem não sabia que esse seria o maior gargalo do país, frente ao enorme desafio de prepará-lo para o maior evento de mídia do planeta?
As obras de que precisávamos não aconteceram. Teremos os puxadinhos... E a escolha das cidades, do ponto de vista de logística, não poderia ser pior.
Certamente não escolheram Manaus por conta da sua enorme tradição no futebol. Nem Cuiabá pela sua bem-equipada estrutura hoteleira. Ou Natal, pela força da iniciativa privada, capaz de, sem recursos públicos, erguer uma arena de futebol.
Se em 31 de maio de 2009, data em que a Fifa divulgou nas Bahamas a escolha feita pela CBF e governo brasileiro das cidades escolhidas, Belém, Goiânia e Florianópolis tivessem sido anunciadas, será que o risco de elefantes brancos seria menor?
Em 2008, fui assistir a um clássico manauara no Vivaldão, entre Rio Negro e São Raimundo. Sabem qual foi o público pagante? Exatas 198 pessoas. Com uma renda de R$ 4 mil. E isso dificilmente vai mudar...
No entanto, Belém, que disputava com Manaus o direito de sediar a Copa, foi preterida, mesmo tendo Payssandú e Remo como duas das torcidas mais apaixonadas do Brasil. Sem contar o estádio do Mangueirão, que é um dos mais belos e funcionais do país.
O grande argumento para a escolha de Manaus foi o marketing da Amazônia. Agora, será que os turistas vão gostar de ver igarapés poluídos, uma bagunça urbana com trânsito caótico e todas as mazelas da cidade? 

Florianópolis apresentou como proposta a reforma do estádio do Figueirense, com capital privado, para sediar a Copa.  No entanto, a escolhida Natal patinou até hoje para encontrar um modelo que fosse interessante para as construtoras.
Seu grande trunfo foi  proximidade da cidade com a Europa. Ora pois, em altura de cruzeiro, o aeroporto de Recife, por exemplo, está a 15 minutos de vôo a mais. Mas o problema maior não é na chegada dos europeus ao país, e sim no transporte entre as cidades, principalmente de aviação executiva. E Florianópolis, com potencial esportivo, estádio privado e entre Porto Alegre e Curitiba, a uma hora de vôo de São Paulo, ficou de fora... Alguém consegue explicar?
Cuiabá ter optado por construir um estádio com arquibancadas removíveis não esconde o fato de que a capital mato-grossense terá um dos maiores elefantes brancos da Copa. Afinal, serão gastos mais de R$ 500 milhões em uma arena que jamais terá um uso proporcional a tanto investimento.
Situação oposta é a de Goiânia, que já possui um estádio incrível projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e tem torcida para enchê-lo, tanto do Goiás, quanto do Vila Nova e do Atlético-GO.
Em alguma coisa nossos governantes erraram. Ou foi na escolha das cidades, ou na falta de prioridade em melhorar os aeroportos, portos, hotéis e, principalmente, a mobilidade entre as cidades.
Para aquelas que foram as escolhidas – ocupando o lugar das preteridas -, não me levem a mal, pois é carnaval.
*Jornalista, autor do estudo sobre Os Estádios Brasileiros e diretor do Portal Copa 2014

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